quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Grande Senado

Quando vejo as cenas ocorridas no Senado, eu imagino tudo aquilo acontecendo com a trilha sonora de algum filme da trilogia The Godfather. O padrinho Sarney cuidando de sua família em um dia como outro qualquer, e outra família planejando tirá-lo da liderança. Bem parecido, não é mesmo? A diferença, meus caros... A diferença... Ahm, penso eu que são os tiros.

Sabem, quando eu era criança, assistia aos grandes filmes de máfia e adorava. Me divertia e sonhava com todo aquele respeito e poder, aquela coisa de ser intocável, temido. Esse era um dos meus sonhos, mas obviamente não entendia nada de lavagem e desvios de dinheiro, nem da diferença entre roubo e furto, ou de ladrão e senador. Mas sabem, pensando por um instante, talvez se eu tivesse me enveredado para o lado político teria realizado meu sonho, e estaria feliz. Opa! Acalmem-se, caros leitores, é só uma brincadeira de mau-gosto, afinal quem, em sã consciência de seus deveres para com a sociedade se tornaria político, já pensando no poder? Quem? Ah! Deixemos para lá.

Não posso entrar em todos os assuntos do mês, senão vocês não teriam paciência para tantos Atos Secretos validados, quebras de decoros, entre outras coisas. Mas brevemente, tenho uma pergunta. Acontece alguma coisa dentro do Senado que não é acompanhada por um Ato Secreto? O que diabos são atos secretos então? É só uma forma decorosa de dizer: “Fazemos, fizemos e faremos”. Aliás, eles falaram tanto em quebra do decoro parlamentar essa semana, que eu fui perguntar ao meu velho amigo Aurélio o que era isso. Vamos lá, no dicionário a palavra está descrita exatamente assim. Decoro (ô) sm Correção Moral; Decência. Me peguei dando uma bela gargalhada. É pra rir mesmo né? O que seria uma quebra de decoro dentro do senado? Se estivessemos em um teste de múltipla escolha, escolheríamos a alternativa (D) -> Todas as anteriores.

Então, vamos aos fatos dessa semana. Don Pedro Simon, da Família PMDB da Costa do Sul (RS) começou a discussão: “... Se o presidente Sarney houver por bem renunciar à presidência, tendo em vista a situação em que se encontra o Senado Federal, é um grande gesto dele; é um gesto que somará na sua biografia...” Percebem a falsidade em suas palavras? O que ele realmente quis dizer foi: - Sai fora enquanto é tempo. Foi bem nesse instante que começou a baixaria de quase duas horas. E foi bem aí também que eu entendi o que eles chamam de quebra de decoro. Vou simplificar. Quebra de Decoro Parlamentar, ao ver dos nossos queridíssimos Senadores é você contar o que o outro fez, afinal de contas, aprendemos desde cedo que dedo-duro nunca faz parte da turma. Pois bem. Diante de tal pronunciamento de Don Simon, o consiglieri Renan Calheiros, da Família do PMBD de Alagoas, combateu dizendo que ele estava sendo hipócrita. Mais um? “Vossa Excelência foi no gabinete do presidente Sarney dizer que estava solidário com ele... faz isso sempre no particular e vem para a tribuna do Senado Federal defender aquela posição que imagina que a sociedade está a defender... o esporte preferido de Vossa Excelência nos últimos 35 anos tem sido falar mal de Sarney... e repete agora nessa missão de paz”.

Don Simon diante de tais acusações, colocou o dedo na ferida do consiglieri. Acusando-o de ter “andado junto” com o inacreditavelmente senador Fernando Collor de Mello. Afinal de contas querem ofensa maior que essa? Diga-me com quem andas e te direi quem és, já dizia alguém. E, continuaram um bom tempo nesse debate, com o assunto sentado em uma das mesas confortáveis do Senado. Que quando, imagino eu, percebeu onde estava, rebateu com todas as caras e bocas possíveis e imagináveis, e até algumas palavras: “São palavras que eu quero que o senhor as engula. As digira como julgar conveniente. Em relação ao senador Renan Calheiros, eu, de minha parte como ex-presidente da República, estou do lado dele e do lado do presidente José Sarney.” O velho ditado merece ser repetido aqui não é? Me diga com quem andas... Ah, vocês já sabem.

Mais um acontecimento do senado essa semana foi a dança dos dedinhos. Renan Calheiros, o consiglieri, após em um pronunciamento a favor de sua família, começou uma discussão, no mínimo duvidosa com Don Tasso Jereissatti, da Família PSDB do Ceará: “Não aponte esse dedo sujo para cima de mim”, Don Jereissatti.

“Dedo sujo é o do senhor, que paga jatinho com dinheiro do Senado”, retrucou Renan.

“O dinheiro é meu, o jatinho é meu. Não é igual ao que você anda com seus empreiteiros. Coronel, cangaceiro de terceira categoria!”, devolveu Don Jereissatti. Parece aquele humorista: É tudo meu, to pagando!

Assistir à TV Senado é muito mais interessante que assistir ao Première Combate. Ah! E cangaceiro, pra quem não sabe é mafioso no nordeste.

Meus caros, não vou continuar falando de todos os ocorridos porque levaria muito tempo, e quero deixar bem claro que não foi por causa dos telefonemas ameaçadores que recebi ontem à noite. Acalmem-se, brincadeira! Mas continuando com o assunto, essas brigas foram uma pequena parte de tudo que está acontecendo no congresso. As falcatruas continuam dia a dia, mês a mês, ano a ano. Foi perguntado aos senadores, por um dos únicos programas humorísticos bons dessa nossa pobre TV, qual suas funções ali dentro. Não me surpreendi ao ver que a grande maioria deles não sabia o que responder.

O principal papel do senador é legislar: propor, discutir e deliberar sobre a estrutura legislativa do país. Um dos pontos mais importantes e que demanda a maior parte de seu trabalho diz respeito às leis orçamentárias, que indicam como e quanto o governo gastará o dinheiro público. São essas pessoas de caráter duvidoso que nós, como povo, colocamos lá dentro, que, além de tudo, escolhem pra onde vai o nosso dinheiro.

Na Grécia Antiga, era sinal de honra ser um Senador. Eram intelectuais, pessoas inteligentes, e comandavam, até mais que alguns imperadores. Até que começou a decadência. Vendo, já nesses tempos, que o caráter de um senador, ou mesmo do ser humano em si, ficava em prova em hora de grandes decisões, o imperador Calígula, nomeou seu cavalo preferido, Incitatus, para o senado. Assim, ele sempre ganhava um voto a mais a seu favor.

Sabem o que penso? Nem isso ganhamos. Nem um voto ao nosso favor. E, penso também que, o mais sensato a ser feito é uma lista – em quem NÃO votar.

Não podemos mais nos esquecer desses nomes. E, mesmo, os que não tivermos certeza dos erros. A dúvida já é suficiente. Vamos parar de colocar cavalos no nosso Senado.