Já passa da meia-noite, e A.F., 15 anos, ainda não encontrou cliente. Me disse isso assim que entrou no carro. Está precisando de dinheiro, e isso é a única coisa que consegue se lembrar, com o que lhe sobra de lucidez. O pai está preso, e a mãe está cuidando do seu “bebê”, como ela se referiu ao filho de dois anos, o que me fez pensar nos motivos de uma criança de 13 anos ter que assumir responsabilidades por outra. Mas pensei que na vida, o que menos existe são motivos.
Enquanto falávamos, vi passar, na nossa frente, três sirenes uma após a outra, e com a naturalidade do que é rotina, as outras garotas continuaram na esquina, ora conversando entre si, ora se exibindo aos carros, que vez ou outra diminuíam e levavam uma das crianças perdidas com olhos adultos embora, para algum canto, talvez mais frio e mais sujo do que aquele. Vi as sirenes sumindo ao longe, e em meio a esse confronto real, sem saber o que dizer, me perguntei em silêncio: Por que?
E, voltando em mim, recebi como resposta uma gargalhada rouca, misturada à um pranto engasgado. Era como se ela soubesse o que eu estava pensando.
Segurei sua mão, dedos entrelaçados.
Passamos alguns instantes em silêncio. Nessas horas o silêncio fala e conforta mais do que palavras pré-moldadas em um livro velho. Alguns momentos depois, quem estava engasgado era eu, e aquela menina de olhos adultos me disse, limpando o rosto: “Ninguém tem culpa moço, a vida é assim”.
Saiu do carro, e com as mãos trêmulas, acendeu um cigarro. Não tive coragem de dizer ou fazer absolutamente nada. Quem era eu para dizer o que era certo ou errado naquele mundo? Me senti impotente. Não consegui me mexer.
Fui embora olhando pelo retrovisor e pensando que a vida é cruel por si só. E que existem cantos escuros inimagináveis. E, que quando saímos do nosso porto seguro, nos assustamos como crianças indefesas. É! A vida é cruel e nós não somos nada. Ou talvez, seja como aquela criança de olhos velhos me disse: “Ninguém tem culpa, moço, a vida é assim”.
terça-feira, 13 de abril de 2010
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