domingo, 21 de junho de 2009

Trecho do meu livro ainda por lançar - "Uma banda de rock no Brasil"

"...As ruas pareciam tortas, estranhas. Naquela hora não havia lua, nem estrelas, nem esperança. A grande névoa tomara conta das ruas e dos pensamentos de Joe, que, mesmo sem entender o por quê, sentia o calor das pernas de Paula e o peso dos olhos de Déia naquele quarto. Andava esbarrando nos muros. Estava sendo seguido. Estava sendo perseguido, mas era por ele mesmo. No caminho de casa, as ruas lembravam a Cidade de Roma e toda sua barbárie. Era um contraste de riqueza e miséria e isso poderia ser facilmente inalado entre becos e esquinas. Era tudo muito frio. Era um misto de desespero e angústia. E o que eu quero ainda é um momento que dure uma vida - pensava. As folhas voavam como passos de danças medievais. As lágrimas começaram a escorrer e se perdiam no ar. Um grito de lamento ficou engasgado, e não pôde ser liberto, ele estava perto demais. E chapado demais. E três imagens se revezavam nos pensamentos de Joe. As pernas de Ana, os olhos de Déia e aquele velho maluco da praça. E, assim, caíram 1/3 dos anjos – disse como em um cochicho, e um riso engasgado. Entrou em sua casa, sem fazer barulho, e já no seu quarto começou mais uma vez a divagar no seu caderno de anotações, ao som baixinho de Beethoven.

A violência dança com Ludwig Von Beethoven. A nona sinfonia é a trilha do desprezo. Faz-me rir, Ares, faz-me rir! Faz-me rir como fizeste teus exércitos no fim das batalhas. Sobre o sangue de inocentes culpados e sob o céu púrpuro dos anjos que ainda não caíram – soltando um riso abafado. É, o som do Pink Floyd não é mais o mesmo. Será que estou blasfemando? Será que estou louco de tanto pensar? Será que estou ficando fraco? Será que seria melhor um copo de leite a uísque? – outro riso. Não, leite me dá asco. Na dúvida, é melhor me calar. Mas já não estou eu calado? E, mesmo assim, não seria melhor perguntar? Não são as respostas que fazem o mundo correr, são as dúvidas, meu caro. Sempre gostei de música clássica. Beethoven, Mozart. A progressão, a dinâmica. A arte da repetição sem repetir coisa alguma. As imagens que nos surgem à mente. Arvores falantes, enforcamentos, números voando, viro personagem de uma história sem fim e sem limites. E nem adianta querer fazer essa sua análise barata pra cima de mim. O céu do seu cérebro é o porão do meu. Aqui não há limites. Minha morada é obscura. Meus demônios estão longe dos seus alqueires. Compreende, meu caro? Porra! O que eu estou fazendo agora? Brigando comigo mesmo ou é com outro que discuto? Não sei, só sei que tinha razão, Pink Floyd não é mais o mesmo. Joe fechou o caderno, deitou e dormiu com a roupa que estava, despejando todas as suas preocupações e doenças naqueles poucos versos em seu caderno sujo e mal-cuidado. Estava agora em paz..."

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Salvem os jornais!

É! As coisas estão mudando mesmo, não é?! Que frio é esse? Cachecol em rio preto! Quem diria? Mas é claro que não estou aqui pra falar sobre o tempo, afinal isso aqui não é conversa de elevador.

Sabe as mudanças que me assustam? As mudanças culturais e como nos acostumamos com tudo rotineiramente. A nossa frente cultural, nossa voz de frente, nossos jornais e nossos escritores são o que me assustam.

Não concordo com essa tese aparente que os jornais sejam feitos simples e pobremente para informar. Passar informação sobre fatos ocorridos é algo simples e provinciano que qualquer transeunte pode fazer.

Eu guardo de todo o coração, quase todas as edições do jornal O Pasquim. Gosto de lê-los vez ou outra. E foi lendo-os um dia desses que comecei a perceber a ladeira cultural em que vivemos. O jornal de antigamente fazia o povo pensar, permitia que fizéssemos parte de tudo aquilo, sentíamos vivos. Jornalistas eram escritores e escritores eram jornalistas. Traziam arte e cultura, e arte e cultura, galera, não é aquilo que costumamos ler nos cadernos que têm esse nome, que são: Colunismo Social, entrevistas com artistas ocos, programação de televisão, mais colunismo social... AAAAAAAh!! Que vontade de gritar!

Alguém aí pode me dizer que após ler um jornal de capa a capa se sente diferente? É, isso mesmo, diferente! Palavras têm que provocar sentimentos. Essa é a arte de escrever. Nós, escritores, temos que saber provocar angustia, reconhecimento de dor, insatisfação, alegria, nostalgia, pranto e sorriso.

Não é nada disso que acontece. Nos dias de hoje, o jornal parece um manual de sobrevivência para a selva que temos de enfrentar quando saímos de casa. Hoje, infelizmente, o jornalista não é um escritor, é um mero informante, salvo alguns, é claro.

Na minha sala de faculdade, com 80 alunos, quando perguntado, eu e mais meia dúzia erguemos a mão na resposta que tínhamos o hábito e o prazer de ler. Isso é aterrador. Os jornalistas aprendem nas malditas faculdades, o segredo da imparcialidade. Perdem a alma. Ser imparcial não é ficar em cima do muro, e sim mostrar os dois lados do muro, com uma conclusão genial que faça o seu leitor ter novas visões da história. Faze-los pensar! Parece dificílimo, mas não é. O jornalista deveria ter uma pitada de filosofia em suas palavras, mas as matérias de um jornal, não ajudam.

O resquício de filosofia que temos nos jornais são textos fajutos de auto-ajuda, que, na maioria das vezes, podem ser comparados a horóscopos diários. Outro dia mesmo, abri o jornal e vi “O seu corpo é um templo”, “O segredo de se manter em forma”, “Lipoaspiração: Amiga ou Vilã?”. AAAAAAh!! O corpo é o templo, mas e a mente, cacete? A mente não se exercita?

Não estou aqui pra meter o pau nos jornais, absolutamente. Isso é uma indignação, na qual sei que não estou só. A verdade é que não vejo crônicas, insatisfação, nem luta ou arte. Vejo textos informativos e publicitários, que com certeza fazem parte do cotidiano de um jornal, mas só isso? Será que não falta nada?

Obviamente, a imparcialidade deve ser usada com louvor, mas o que faculdades não ensinam é ter Alma! A sordidez tem que aparecer, mesmo que por entre as linhas. Saber argumentar, pensar, mostrar o lado certo e inverso das coisas. Formar opiniões é essencial. E, se indignar, às vezes é preciso!